quarta-feira, junho 29, 2005

 

 

"Only a Surfer knows the feeling"

Andava eu a deambular pelo blog antigo... e eis que encontro este texto (que me lembro, até foi integralmente transcrito num blog brasileiro que uma vez achei aí pela blogosfera):


Em tempos já passados, não muito distantes desta paragem a que chamamos presente, lembro-me de um célebre slogan da Billabong que dizia: "Only a surfer Knows the feeling".

E lembro-me tão bem, que apenas há pouco tempo, e depois de ler algures (que sinceramente não me lembro onde) essa mesma e emblemática frase, me dei conta do seu progressivo e discreto desaparecimento, facto até agora, lançado inconscientemente para o baú das minhas não-recordações.

Este slogan, alimenta em mim duas sensações diferentes: uma é uma dissertação a outra uma recordação.

Começando pela última, lembro-me bem de quando a minha atenção se começou a virar para este slogan, e o efeito fascinante, sonhador que o mesmo teve sobre mim. Lembro-me de querer aquela t-shirt ou aqueles calções. Lembro-me de me querer vestir com aquelas roupas e de adorar ver o Baywatch, de adorar as idas à praia, de progressivamente o meu corpo e a minha alma serem assimilados por todo este espírito, por toda esta onda em torno do surf. Em Peniche, num dado Verão, há já 8 anos, finalmente a minha atenção virou-se definitivamente para o mar, um ano depois o surf entra objectivamente na minha vida, com a minha primeira Surfportugal. E desde aí, aquilo que potencialmente seria mais uma mania típica da adolescência, tornou-se na minha maior paixão seguindo-se a minha prancha de surf em segunda mão, do meu fato, das minhas primeiras viagens sozinho para a praia, etc. E agora quando me recordo deste slogan, a minha alma sorri e pensa... foi nesta altura que tudo começou!

Dissertando um pouco à volta deste slogan, ou melhor, à volta do seu significado, eu não poderia estar mais de acordo com o mesmo. Quando tentamos definir surf, não conseguimos, e se não quisermos gastar tempo, palavras, tinta, seja o que for, podemos sempre responder: Only a surfer knows the feeling.

Sim, porque tentar compreender o que é o surf, sem nunca ter experimentado as sensações básicas que este acto pode proporcionar ao comum dos mortais, é tentar descrever algo que nunca se viu. Surf é mágico, é vida, é liberdade, é amor, é respeito por algo que já poucos vão respeitando: a Natureza, o mar. É também na sua essência, uma comunhão livre e profunda com todos os elementos, com o corpo e a alma. Amar com o coração, suar com o corpo... e no fundo apresentar uma definição de felicidade, resumida em algumas horas dentro de água, projectada para fora dela.

O surf mais do que tudo, vive-se.

É uma paixão que resiste, talvez a única! E ainda bem que hoje sou um apaixonado pela paixão que resiste: Surf.

- 26 de Abril de 2004 -


sábado, junho 25, 2005

 

 

Retrospectiva

Retrocedendo no tempo e olhando o passado de uma forma positiva, não posso deixar de sorrir ao olhar os posts mais antigos deste blog (e não me refiro apenas a esta mais recente versão Blogspot, mas também dos tempos do Sapo.pt).

Deixarei aqui uma retrospectiva de alguns posts antigos, especialmente pré-Blogspot.com, aqui ficam alguns exemplos:

-agosto 01, 2004-

Surf: o sonho alquimista (ou não)!!!

A morte é uma consequência da vida. A vida é um contínuum finito limitado pelo contínuum infinito que é a eterninade - a morte é uma unidade instantânea e finita, e também ela contida na eternidade.
O surf é a unidade que nos transporta para a eternidade por breves momentos, o escape da vida, a antitese da morte. Mais do que uma entidade perdida nos confins do hedonismo, o surf é em ultima análise, o que mais se assemelha ao "sonho alquimista" - O Elixir da Vida. Ainda que o "sonho" seja o espelho da imperfeição latente no ser humano, não só este, mas todo e qualquer sonho.

-julho 28, 2004-


Jaws

No passado domingo, voltei a assistir a um documentário sobre a famosa onda de Peahi, mais conhecida por Jaws, na ilha de Maui, Hawai. Foi a segunda vez que assisti a esta produção que dá pelo nome de "Ka Nalu Nui - The Ultimate Surf", que passou na RTP2 e que conta a "história" do surf numa das mais miticas ondas do planeta - Jaws.

Surfar Jaws, ou Peahi como os locais lhe chamam há muitos séculos, é um exercicio que poucos se atrevem a experimentar. E os que se atrevem a cavalgar a "mãe de todas as ondas" são um pequeno número de seres, pioneiros na arte de surfar rebocado (tow-in) por wave runners de 350 cavalos, dada a impossibilidade de apanhar ondas desta dimensão apenas com a força da remada. Entre eles encontram-se Laird Hamilton, Alfredo Villas-Boas, Pete Cabrinha, Ken Bradshaw, entre outros quase todos nascidos no Hawai e habituados ao poder endémico de qualquer onda hawaiana. Estes são homens para quem o medo tem um significado bem mais amplo do que para o comum dos mortais, são homens que herdaram o verdadeiro espirito dos "reis hawaianos", da tradição polinésia, onde o mar faz parte deles próprios, onde o mar e o homem são unos e indissociáveis.

Surfar Jaws será uma das experiências mais enriquecedoras que um ser humano poderá ter, pois em cada palavra, em cada gesto, em cada sorriso de cada um destes homens, é possivel vislumbrar uma tranquilidade, uma paz de espirito e um respeito por tudo o que os rodeia, díficil de encontrar em qualquer sociedade moderna.

Ficou-me na mente, em particular uma citação de um oceanógrafo e surfista que aparecia nesse documentário, e do qual não me lembro o nome, que dizia por outras palavras que surfar Jaws era algo único, algo que representava o paraíso ou o inferno, numa questão de segundos, que nos remetia à nossa pequenez relativamente ao mundo e ao mar. Depois de uma onda surfada, sublime, em que podemos estar nas nuvens com o maior ego do mundo, a segunda onda pode destruir-nos sem piedade, podemos passar do Céu ao inferno numa questão de segundos sem que tenhamos, sequer, tempo de perceber o que se passou. É uma experiência, dizia ele, que nos reduz o ego, e nos consciêncializa da nossa real dimensão.

Surfar Jaws é quase transcendental, o espirito e o corpo são ambos importantes, e formam a unidade perfeita, só assim alguém pode enfrentar aquela onda, e viver a experiência mais intensa da sua vida - eu acredito que depois de uma onda em Jaws, a nossa vida adquire para nós, um outro significado, uma outra dimensão.

Antes de uma sessão de surf em Jaws, que acontece muito pouco durante um ano, existe o hábito, de diante do grupo de surfistas, um sacerdote dizer uma ancestral oração chamada Ka Nalu Nui, uma invocação aos deuses, um chamamento às ondas, e em que cada um dos surfistas é benzido sendo-lhe atribuida a protecção divina.

Assim, mais do que um acto de puro divertimento, prazer ou competitividade, surfar em Jaws é um acto de sobrevivência que tem compensações muito mais altas, que não se resumem ao puro prazer, adrenalina ou realização pessoal, surfar Jaws oferece uma visão do mundo e da vida, que poucos conseguem vislumbrar nos tempos que correm - uma consciencia de que somos parte integrante da Natureza, contrariando a ideia de que a controlamos e que por norma, nos incute uma indiferença e um desrespeito face a esta (com os resultados que estão à vista).

Eu se pudesse surfava Jaws, mas esse, como se costuma dizer, é o sonho de qualquer surfista, mesmo que saiba que nunca terá as condições físicas e psicológicas (especialmente estas!) para o fazer.

De referir, por último, que este documentário foi das melhores produções documentais a que assisti nos ultimos tempos - grandes imagens, grande banda sonora e especialmente a forma como conseguiam captar cada sentimento em cada palavra e em cada olhar dos intervenientes, especialmente aquando das entrevistas. Sublime.


-junho 22, 2004-

Mergulhar

Sobre uma capa amarela, deslocava-me lento pelas ruas cinzentas da metrópole. Prancha dentro da capa, mochila às costas, e a chuva impiedosamente caíndo-me em cima, sem cessar! Afinal onde andava eu? Que cidade cinzenta poderia ter a ver com aquele azul turqueza de um mar enclausurado à muito nas minhas lembranças? O caminho parecia longo, a rua parecia não terminar, e aquela cidade de prédios altos parecia apodrecer a cada passo que eu dava. Tinha os pés frios, as meias molhadas, as calças húmidas e os ossos a pedirem calor, por vezes punha em causa a minha sanidade mental: afinal que fazia eu naquele sitio? Mas onde andava o mar, aquele oceano imenso que me fazia sonhar e alimentar a alma em cada sopro de vento que me ondulava as roupas e me gelava o corpo? A minha caminhada era uma metáfora de salvação suplantada pela mais infame sensação de impotência. A dúvida pairava sobre mim, mas as minhas pernas não paravam, lá ao fundo o cinzento dominava o horizonte, desfocado, imperceptivel.

Aproximo-me daquele cinzento, e apesar de cada vez mais próximo, continuava a ser uma imagem desfocada, um cinzento cerrado, quem sabe algum nevoeiro. Entro decidido no meio do nevoeiro, não via nada, os meus olhos nada enchergavam a não ser um conjunto de goticulas suspensas no ar. Sem saber a direcção que tomava, continuava a movimentar as minhas pernas... até que um azul pálido começa a surgir diante de mim, cada vez mais vivo e perceptivel, um mar, azul, muito azul, como nunca tinha visto antes, ondas rompiam o horizonte, linhas corridas, rebentando triangulares, clássicas, perfeitas. Deserta, livre, areia fina, eram palavras indissociáveis desta praia. Faz-se luz sobre o meu coração, o sol bate-me na cara insistente e rejuvenescedor, largo tudo, agarro a minha "menina" e faço-me ao mar, às ondas. Uma ânsia precisa, um sabor a sal nos lábios, um cheiro a maresia, eram as boas vindas de Neptuno. Sinto-me novo, apetece-me mergulhar até ao fundo, olhar o que debaixo de mim subsiste, perder o receio do desconhecido e misterioso fundo, aquele que nos protege dos rolos compressores que à superficie varrem tudo o que lhes apareça pela frente, ver a vida que se manifesta por debaixo de tanta dinâmica, de tanto caos, alimentar a minha alma de calma, serenidade, sorrir ao ler cada trecho deste mundo aquático, escrito pelas mãos da Natureza.

Acordo! O sonho de um estado de alma, o cinzento do antes, a luz do depois, a felicidade como um mergulho, efémero, não permanente, controlado pela necessidade de respirar, como a felicidade é controlada pela nossa necessidade de esperar e desesperar. Assim é aquele mergulho, um pequeno e curto momento de felicidade, sempre seguido de longos momentos de espera, espera por aquele oxigénio que tanto nos dá a vida, como nos envelhece!

"So here i go
I'll dive right in
Break through the waves
Straight to the ocean floor

And allthough my hands are shaking
I lie perfectly still
Cause i'm determined to let myself sink down

And i know i'm buried too far down
To feel the warmth from the sun again

I could wave my arms and swim away
But never reach the shore
But for now i will lay face first in the sand
With the wreckage from shipos that lost their way"
- Story of the year-


São alguns exemplos do que de melhor (uma opinião meramente pessoal) eu andava a escrever há sensivelmente um ano atrás.

Pude constatar que muitos outros textos escrevi, e com renovada convicção observei o quanto podemos mudar em curto espaço de tempo. Na verdade, voltando atrás no tempo, consigo rotular este blog como um livro, um diário... algo assim, que regista cronologicamente estados de espirito, mais ou menos longos no tempo, e que hoje, voltando a ler alguns posts apenas consigo retirar estes três como não especificamente marcados ou impregnados de sentimentos vãos e nebulosos que em tempos me fizeram escrever outro tipo de textos. Se olhássemos mais para trás... melhor poderiamos confirmar esta noção.

Em, quase, ano e meio de existência...
- três mulheres tiveram tempo de antena neste blog... as duas primeiras, fazem-me hoje rir com alguma complacência por mim próprio (como eu andava!!!) - a última é a mulher da minha vida - dona do meu coração, com quem sei que irei partilhar a minha existência, e isso basta;
- tou mais velho, mais cansado e cada vez mais hipocondríaco (sei que é ridiculo dizer algo deste género aos 22 anos!!!);
- escrevo menos, tenho mais barriga e menos neurónios;
- tenho mais falta de surf, de inspiração... e de dinheiro;
- já não estou a caminho do 3º ano de Universidade, mas sim do 4º;
- como já sou um gajo importante dentro da Mui Nobre UÉ, tenho forçosamente de ser mais responsável (a Queima das Fitas e as Jornadas de Recursos Hídricos, fazem parte das responsabilidades);
- já não fumo canhões... deixei a droga (mas não o alcoól);
- não meto uma tábua de skate debaixo dos pés há mais de um ano;
- tou mais maduro... mas com menos tempo para escrever...

... em suma, preciso urgentemente de surf, descanso e paz... no fundo, preciso de umas férias sem fazer a ponta de corno, a não ser surfar, amar e relaxar - Surf, sopas e descanso!!!!

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