sexta-feira, abril 08, 2005

 

 

The Odyssey

O surf como tudo na vida, não está isento dos caprichos do tempo e como consequência, também ele está em constante mutação sendo que nem todas as mudanças são positivas, dependendo obviamente, da perspectiva e espirito com que cada um vive e desenvolve a sua paixão pelo surf.




Em tempos, a busca pela onda perfeita, esse mito sempre presente na alma de qualquer surfista, resumia-se a uma prancha, um passaporte e uns trocos (ou uma mão cheia de "massa" - depende da perspectiva), que resultava em jornadas mais ou menos longas, desprovidas de qualquer tipo de obrigações, impelidas pelo espírito livre do surfista. Ele que numa carrinha, num avião ou simplesmente à boleia porventura naqueles velhos autocarros apinhados de gente, típicos do terceiro mundo, se deslocava de spot para spot sempre com um objectivo em mente: ondas... sem crowd e perfeitas!

Não que este conceito esteja ultrapassado - nunca o estará - mas nos dias que correm, um outro chamamento parece seduzir o surfista intrépido, qual marinheiro hipnotizado pelo canto das sereias. O da busca pela maior onda alguma vez surfada, na forma do pioneiro programa Billabong Odyssey, idealizado pelo jornalista de surf de 43 anos, Bill Sharp e financiado pelo colosso do surfwear australiano.

Um novo conceito de busca - uma procura incessante pela maior onda jamais surfada. Desde o advento do tow-in surf (literalmente surf a reboque) que o conceito de surf trip disparou para um nível bem mais elevado, passando da prancha, do passaporte e dos trocos, para as guns, os Waverunners de 125 cavalos e os milhares de dólares que bancam toda a logística bem como os chorudos prémios para os "cabrones con mas cojones".

Este programa da Billabong, desde 2001 já fez algumas das mais espctaculares espedições como a Cortez Bank (o fabuloso reef de alto mar a 200 milhas da costa de San Diego) e que, mais recentemente descobriu o terrivel titã mitológico Cyclops, algures na costa oeste australiana, bem como aquela que é neste momento a mais promissora costa, no que diz respeito a big wave spots - a costa do Chile (4000 kms de costa, mais de metade completamente inexplorada).


Cyclops - o Monstro mitológico (ao que parece também zarolho) que Ulisses derrotou na Odisseia de Homero, agora também domado na Billabong Odyssey de Bill Sharp.

Naquilo que parece ser mais uma das loucuras do visionário Sharp, este resolve aumentar a parada para a mítica barreira dos 100 pés - sensivelmente 30 metros - (há apenas 5 anos atrás chamar-lhe-iam louco e utópico) oferecendo 250 mil dólares a qualquer um que prove ter surfado uma onda deste tamanho (incluindo os surfistas do Billabong Odyssey).

O Billabong Odyssey continua aí na sua busca pelas maiores e mais secretas ondas do planeta, numa constante mobilidade e impressionante aparato logistico, tendo como principal objectivo fixado: os 100 pés. Muitos ainda dizem que é um limite dificil de alcançar, mas o mentor de todo este projecto não pensa o mesmo bem como a própria Billabong e os seus surfistas.

E tendo em conta, a evolução do tow-in desde há uns anos para cá parece-me que o tipo tem mesmo razão - mais dia, menos dia (parece ser Cortez Bank o local mais bem colocado para ganhar a corrida)...


Ken Bradshaw (um dos maiores big riders mundiais e pioneiro do tow-in em Maui) e Leane Beachley (seis vezes campeã mundial de surf feminino) recusaram enfrentar Cyclops (em cima) aquando da memorável descoberta desta onda pelo Billabong Odyssey. Bill Sharp diria mais tarde acerca desta onda: "There are really very few waves in the world where a wipeout is guaranteed to fuck you up, this was one of them."

Apenas Mike Parsons e Brad Gerlach não se acagaçaram e tiveram-nos no sitio para enfrentar este rolo triturador de ossos, tendo ainda assim surfado apenas umas quantas bombas dando à sola pouco depois. Pudera!!!!


De facto, a ideia do soul surfing é hoje o que sempre foi - e assim sempre continuará. Talvez o conceito de "busca pela onda perfeita" esteja nos tempos que correm num patamar acima, quebrando barreiras de tamanho, mais do que de perfeição. Mas em ambos os casos, o mistério mantém-se. Aquele mistério inexplicável da busca, o insaciável desejo de viajar, quebrar fronteiras e surfar as mais belas, potentes e secretas ondas do planeta, seja lá onde elas se encontrem.

A busca continua (com mais uns dólares à mistura).


quarta-feira, abril 06, 2005

 

 

Urgente...


No seguimento da visita ao blog Alvaláxia venho por este meio contribuir da forma que posso para um caso dramático:

peço que divulguem a pedido de seu pai, Fausto Carvalho de Jesus, de 38 anos.

Se alguém souber de algo relativo ao desaparecimento do Daniel, Contactar 351 912277887 ou cdsilva@aeiou.pt .

Muito obrigado pelo tempo perdido a ler esta mensagem já agora,

Por favor, enviem ao maior número de pessoas possível.

domingo, abril 03, 2005

 

 

Karol Wojtyla - O Peregrino da Paz

Neste que é um espaço onde o surf está sempre explicita ou implicitamente presente, deixo aqui um texto de homenagem a um dos meus ídolos falecido ontem. O Papa João Paulo II, o Peregrino da Paz, um homem com um espirito de peregrinação, um homem que viajou pelos quatro cantos do mundo, e já que falamos de surf, um homem que em muito se assemelhava ao comum soul surfer, naquela profunda, quase transcendente, vontade de viajar e estar junto daquilo por que vive...


Um homem, um sacerdote, um mistico, poeta e filósofo... muito se disse deste homem a quem muitos chamam Santo. Ninguém deixou indiferente com o seu carisma, a sua devoção e preserverança. Um exemplo de coragem e lucidez, independentemente de algumas opiniões mais conservadoras, ele foi um homem de Paz, um homem que sempre defendeu a vida e o amor, a paz e a fraternidade entre os povos. Um homem que, mesmo em dificuldades físicas, não hesitou em estar perto dos seus seguidores, e mesmo de todos aqueles que não compartilhavam as suas ideias (religiosas, filosóficas ou políticas). Foi um Papa que muito viajou, não se limitando em, do alto do seu "trono" governar desinteressadamente uma instituição secular e primordial na história da civilização. Este Papa foi um homem do povo, que nunca temeu envolver-se com a multidão e que sempre teve um espirito de peregrinação imenso. Foi um homem que pregou a Paz por todos os cantos do mundo... e daí a designação que, para mim, melhor lhe assenta: o Peregrino da Paz.

Ontem às 21:37 (hora de Roma), o Papa despediu-se de todos nós quero crer, em profunda tranquilidade, e mais uma vez mostrou ao mundo a sua preserverança e espírito lutador: mesmo na hora da morte a lucidez foi sua companheira. Uma alma jovem, num corpo velho - eis a razão da sua morte... sim, porque o Papa era um homem como qualquer um de nós, e não estivesse ele sujeito às leis universais da vida e da morte terrena, certamente continuaria vivo e a impressionar-nos com a sua extrema sabedoria.

Nunca fui uma pessoa de profunda devoção, apesar de ter formação católica e apesar de não acreditar no acaso, olhando Deus como uma força superior fora das doutrinas religiosas vigentes e demasiado obtusas, criadas pelo imperfeccionismo da mente humana. Doutrinas essas, que em várias religiões travaram mais o encontro com Deus do que o fomentaram. Daria pano para mangas, mas queria-me concentrar apenas num ponto: o Santo Padre.
Sempre houve duas mentes com as quais teria um enorme prazer em privar de perto, duas mentes profundamente místicas e espirituais e que muito me fascinam há longos anos: eram elas o Dalai Lama e o Papa João Paulo II. Porquê? Sinceramente, ao olhar estes dois homens a minha mente e a consciência do meu ser limita-se a admitir a sua pequenez e a olhá-los como dois mestres, dois sábios que em muito têm ajudado a Humanidade na sua busca, mais do que por uma verdade absoluta, por uma consciência colectiva ampla e assente em ideais de solidariedade, pacifismo e amor pelo próximo. Neste particular, o Papa sempre foi um ídolo, não pelo que representa na Igreja, mas sim pelo que representa como ser humano - um exemplo do que de melhor tem o coração dos Homens!

Em suma, e não me querendo alongar muito mais, presto aqui homenagem a um dos homens que mais admiro e admirei ao longo destes meus 21 anos de vida. É uma perda irreparável acima de tudo, para a Humanidade. Este senhor era insubstituível, e certamente terá um lugar priviligeado na história da Humanidade. A sua morte em muito entristece os corações, especialmente dos crentes e devotos, mas também daqueles que como eu, lhe acharam uma sabedoria imensa e uma mente brilhante do século XX e XXI. A sua morte é precedida de 10 anos de sofrimento, com um agravamento do seu estado de saúde nos ultimos meses, um sofrimento que ele aceitou sempre com uma lucidez e uma coragem espantosas levando até ao fim, a sua missão, com a qual se comprometeu com os seus fieis. Independentemente das opiniões acerca da sua resignação, este homem foi um lutador contra a sua doença e um lutador pela Paz, não podendo nós, deixar de lamentar todo este sofrimento. Assim, não só é uma noticia triste, a morte de João Paulo II, mas é também o tão esperado término do seu sofrimento e da sua agonia. Por isso, estes devem ser dias de profundo pesar pela sua morte, mas também de profundo alivio por sabermos que neste momento este homem não sofre e que, se alguma coisa existe para além da morte, certamente ele descansa finalmente em paz e harmonia nesse local.

Karol Wojtyla descansa em Paz

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