sexta-feira, abril 06, 2007

 

 

Momentum

Para ler ao som de...

O quadro que apresento representa aquilo que consegui captar, sobre momentos que me são queridos. Momentos que constroem uma realidade que me envolve. Uma realidade que sinto moldar-me enquanto ser humano, como as mãos de um oleiro moldam o barro macio.

Uma realidade que é feita de momentos.
Os momentos que se evocam neste poster, mas muitos mais poderiam fazer parte deste quadro.
Momentos dispares entre si.
Momentos que me dizem, no sussurro das profundezas da minha consciência, que as minhas raízes, como as de um eucalipto, na terra seca rasgam o destino em busca de água. Mas as minhas, água salgada.

O limite entre o meu ser e o meu estar situa-se algures na distância de um pensamento, a meio caminho entre a terra e o mar. No local onde se sente a melancolia e a calma das planuras quentes, mas onde o cheiro fresco a maresia já irrompe pelos poros do vento.

Enquanto o pensamento, a memória e a imaginação me encurtam as distâncias, como as raízes do eucalipto procuro rasgar a terra seca em direcção ao estado liquido. Não se dissociam nunca, estes estados - o etéreo e o terreno, o platónico e o carnal - porque o sonho move o Homem. Sonhar é viver, alimentar a alma com aquilo que não é, preparar o corpo para aquilo que há-de ser. Sonhar é o mapa do tesouro. Viver esse sonho só depende da capacidade que tenho para interpretar esse mapa.

De certa forma, a amalgama de imagens, representam aquilo que alimenta o sonho: a memória, o pensamento... a imaginação. São testemunhos de um passado, símbolos dos pilares nos quais assentam o meu mundo. Sementes do meu futuro.

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quarta-feira, abril 04, 2007

 

 

No pain, no gain

Para ler ao som de:

Saca num momento de glória pela vitória no Boundi Billabong Pro da Ericeira

Volto a escrever quase um mês depois do ultimo post.
Não é por acaso que o faço, basta pensar que ontem fui novamente surfar. Os mesmos 300 e picos quilómetros de viagem, as mesmas ondas, (quase) o mesmo tempo... mas com companhia de surfada e mais uns quantos ensinamentos.

Momentos de desânimo e euforia são fruto de situações diametralmente opostas, que no surf tendem a acontecer alternadas com uma frequência por vezes desconcertante, em que as distâncias temporais entre elas se podem discretizar ao segundo.
É fácil assim, perceber o turbilhão de sentimentos, sensações e emoções por que passa um surfista a partir do momento em que se entrega aos caprichos do mar.

É claro que o relativismo inerente a esta constatação não deve ser desprezado. É dessa forma que, em função do nível de surf, das condições de mar e da própria estrutura emocional do surfista, se expressa com maior ou menor fulgor, e de pessoa em pessoa, este facto.

O facto de no surf se estar sempre no limiar entre o êxtase e a desilusão, ou mesmo a angústia, faz perceber melhor do que estou a falar: num dado momento se pode encaixar no tubo mais profundo e o êxtase se apoderar de nós, e no segundo seguinte toda a energia daquela onda se abater sobre nós na forma de um violento turbilhão de água. Tudo se resume a um único momento, onde o espaço e o tempo determinam o nosso êxito ou o nosso fracasso.



Assim é o surf.
Assim se constroem os momentos de glória, mas também é daqui que se determinam os momento de humilhação. A distância entre eles é no surf, o equivalente à espessura do lâmina de uma navalha.

Costuma dizer-se que o maior vencedor, não é aquele que vence mais vezes, mas sim aquele que consegue levantar-se e vencer após uma grande derrota.
Pois bem, é aqui que reside a magia do surf, aquela que nos amarra e nos seduz para sempre.

A procura frenética da onda, do prazer supremo de encaixar na onda e desfrutar da mesma, traz não só o prazer fisico em si, mas um sem número de outras coisas que tornam o surf tão especial. Entre as quais está esta capacidade para nos fazer lidar com o fracasso constantemente. Diria que isso maximiza os momentos de prazer e êxtase, dando-lhes maior significado e um sabor especial. É dessa forma que a motivação sobe e as probabilidades de sucesso aumentam. No fundo, é dessa forma que o surf se torna inexplicavelmente tão viciante. E é assim, que aos trambolhões, com dores, sangue, suor e lágrimas, evoluímos e sorrimos a cada passo dado nessa evolução enquanto "viajantes das ondas".

A máxima inglesa do "no pain, no gain" aplica-se na perfeição a este nosso mundo de ladrões de energia oceânica. Como um pai, o oceano explica-nos que nada se consegue sem sacrifício, e que isso enriquece a experiência. Que no fundo, o êxito é tanto maior, quanto maior for o sacrifico e as provações pelas quais passamos para o alcançar.

Vencemos de cada vez que ultrapassamos os nossos fracassos e tentamos novamente, e novamente, e novamente... até conseguirmos.

Por vezes não é fácil percebermos a extensão desta máxima, por vezes precisamos de umas palavras de incentivo (daqueles com quem surfamos ou que simplesmente nos querem ver triunfar), por vezes é o orgulho que nos impele a ultrapassar o fracasso. Mas no fim, independentemente das razões, sabemos que o êxito nos espera e que será muito saboroso.

Street surfing

PS: neste particular, devo agradecer ao meu habitual companheiro de surfada, o Pedro, pelas sucessivas palavras de incentivo que por mais de uma vez me fizeram chegar ao êxito. Um abraço.

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