sábado, janeiro 22, 2005

 

 

Ecologia e massificação do surf

«Só pelo facto de apanharmos as ondas do Oceano, temos uma grande responsabilidade para com a ecologia da Terra" Bill Hamilton, 1971.

O surf é um desporto, um modo de vida, uma filosofia... há quem lhe chame religião. Independentemente da forma como cada um de nós o defina, é indiscutivelmente uma actividade de culto para aqueles que têm o privilégio de sentir a magnífica essência de comungar livremente com o que nos rodeia, alimentando a alma de cada um destes seres - os surfistas - apenas, e só aproveitando a energia que uma onda contém em si, uma pequena parte da vitalidade de um ambiente cheio de vida, um regresso à genese do ser, ao mundo liquido que durante nove meses abraça uma pequena criatura que mais tarde se tornará um ser Humano. O Oceano, personificado por Neptuno, afagado pela mão da Mãe Natureza, livremente adoptado pelo ser que se aproveita das suas mais poderosas forças - as ondas, - sem no entanto, oportunisticamente lhe retirar seja o que fôr. É uma das poucas relações humanas, para com a Natureza, que se reveste de total harmonia, não se debatendo com consequências criadas através de desequilíbrios antropogénicos, eventualmente criados pelo surfista.

Mas, e todos temos presente, o Homem não é Surfista... já Nat Young dizia "surfers are members of a diferent race of people from the man in the street", e essa afirmação ilustra uma realidade que sempre pautou o surf dentro da sociedade - uma minoria - mas a verdade é que dificilmente o surf poderia ser uma actividade de massas, com todo o tipo de conflitos que isso acarretaria, podendo desvirtuar por completo a verdadeira essência do mesmo, veja-se neste contexto o paradoxo dentro de tudo isto ao olharmos para a evolução do surf na ultima década, que tem seguido pelos caminhos da massificação através da postura mercantilista e competitiva das marcas ligadas ao sector. Ora isto é bom, ou mau?!

Bom, no contexto deste artigo, diria que a resposta é ambigua, ou seja: se por um lado caminhamos para um surf massificado, com cada vez mais adeptos, potencialmente desvirtuado da sua essência e perigosamente perto da ausência dos seus valores fundamentais, por outro lado esta massificação poderá ter um efeito amplificador de uma luta que dura há muito - pela protecção dos mares e oceanos, bem como da Natureza em geral - na medida em que um exponencial crescimento no número de praticantes e mediatização adjacente, contribuirá para catapultar esta luta para um patamar mais relevante. Enganem-se no entanto, aqueles que pensam ser uma consequência óbvia e ausente de perigos, e aquele que vislumbro mais dificil, é em si o paradoxo próprio criado pela massificação - o perigo óbvio da perda dos valores ambientais e humanos, que o surf sempre potenciou em si, e na sua essência, e que qualquer processo de massificação tem tendência a aniquilar, como consequência directa dos desequilibrios criados por estes processos (já assistimos a processos destes em todos os sectores da sociedade são exemplos a música, cinema, industria, economia, etc).

É para mim, essencial que esta explosão seja acompanhada de movimentos individuais que potencíem a tolerância, o respeito e a harmonia dentro de água, pois só assim se pode alcançar uma verdadeira massificação do sentimento ambiental que cada um de nós deverá sempre ter, enquanto surfistas e enquanto homens. Só assim, este boom a que temos assistido no surf, será verdadeiramente positivo na luta pelas questões ambientais. E a este nível, as maiores responsabilidades vão para as marcas, para os surfistas profissionais - modelos e ídolos de inúmeros jovens surfistas - , para os professores das escolas de surf e em geral para todos aqueles que já cá andam há mais tempo, e têm como obrigação fomentar os verdadeiros valores do surf, entre os quais e nomeadamente, a consciência ambiental.

Em suma, a questão ambiental, tem de ser hoje a prioridade número um para qualquer surfista, não só na defesa do seu "quintal", mas numa perspectiva mais ampla e global. São hoje inúmeras as organizações e movimentos ligados ao surf, que lutam pelas questões ambientais - Surfrider Foundation, The Groundswell Society, o movimento Save Our Surf, o forum Our Mother Ocean da Surfer, criado em 1970 por Steve Pezman, a Sea Sheperd Society ou a infelizmente nossa conhecida Save the Waves Coalition do norte americano Will Henry - são apenas algumas das plataformas de luta contra os atentados ambientais cada vez mais frequentes contra o oceano e contra as ondas.

Desde meados da década de 60 que a conscencialização dos surfistas para este problema, tem vindo a aumentar, desde a luta infrutífera para salvar a onda de Killer Dana em Dana Point, Califórnia, até agora. A evolução é notória, e a prova disso são a mediatização de cada novo caso de ameaças às ondas, ao mar e à Natureza num qualquer lugar deste planeta. Por isso há que continuar esta luta, num mundo ainda pouco sensível para este tipo de causas onde os grandes interesses e a ditadura do betão, ainda ditam regras e onde cada um de nós tem a obrigação de lutar pelo seu espaço, o espaço que nos proporciona os momentos únicos que caracterizam uma surfada, o ambiente que nos permite viver e sentir todos as boas sensações, o espaço que nos dá variados recursos e que torna as nossas vidas um pouco menos entediantes só pelo facto de existir.

Se é verdade que a permissa "quantos mais melhor" é verdadeira, é também fundamental que exista união no seio desta massa, e que o ambiente e a defesa dos mares seja o catalizador para essa união que tem de ser saudável e verdadeira, sob pena de hipotecarmos as nossas esperanças para o futuro.

terça-feira, janeiro 18, 2005

 

 

Salvem a Onda de Carcavelos

Este blog não só tem sido um local de opinião, reflexão e crónica, mas também um local de divulgação e activismo. É verdade que poderia ter um carácter informativo bem mais amplo e assíduo, mas a verdade é que nem sempre existe tempo disponível além, da minha manifesta incapacidade para me manter totalmente informado relativamente a determinados eventos.

Como é apanágio deste espaço continuo a divulgar alguns atentados contra o litoral (e não só) e consequentemente contra algumas ondas portuguesas, o que infelizmente parece estar a tornar-se hábito. Mais uma vez tenho de utilizar este espaço para divulgar uma petição contra a destruição de uma onda nacional... desta feita, uma das históricas e mais perfeitas ondas portuguesas: a onda de Carcavelos. Uma autêntica fábrica de campeões de onde têm saido alguns dos melhores surfistas nacionais, que é agora ameaçada pela construção de dois pontões, obra inserida no programa de requalificação da orla costeira, segundo uma noticia avançada pelo Público no dia 13 de Dezembro de 2004.

Assim aqui fica o endereço para quem quiser assinar: http://www.petitiononline.com/letter01/ .

Surfista ou não surfista, esta é uma questão que nos tem de motivar a todos, pois a destruição de mais uma onda não significa simplesmente a destruição de um fenómeno natural, mas sim a destruição de um símbolo do surf nacional, a destruição de um local onde miudos desde muito novos aprendem, não só a domar uma onda, mas também e mais importante, aprendem a respeitar a natureza, a tirar partido desta, a partir de uma relação de simbiose e harmonia, algo cada vez mais dificil de encontrar nas sociedades actuais e, por fim, a destruição desta onda, bem como de outras por esse país fora, é mais uma machadada num desporto em ascensão que, para além da popularidade que vem ganhando, tem contribuido sobremaneira para uma educação ambiental, para um estilo de vida mais saudável e para um equilibrio espiritual inerente à sua prática... valores cada vez mais secundários nas sociedades modernas, e que este é um desporto/estilo de vida, que os fomenta e fortalece. Por isso, este não é um assunto apenas da comunidade surfista, e sim de toda a sociedade civil!

Esta como outras petições estão disponíveis permanentemente no local dos "Links" na barra do lado esquerdo (atenção também à petição para o Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina) pois estes problemas não devem ser tomados em consideração apenas quando nos batem à porta (leia-se no nosso "quintal").



segunda-feira, janeiro 17, 2005

 

 

...saudade...


A(Mar) Posted by Hello


O leve entranhar do teu sal nas minhas carnes,
o teu aroma que me impregnava os poros,
a pele sabor acre... livre,
insensivel à mais dura das dores,
encontrando no teu abraço,
a mais bela expressão do sentimento que me une a ti!

...estás longe, e continuo-te a amar com ainda mais intensidade, a saudade é luz ofuscante que me cega e me fere a alma. O teu sentir prende-se a um som, a uma palavra... a uma lembrança.

Bem sei que voltarás em poucos dias, bem sei que em poucos dias te terei nos meus braços e poderei olhar-te de novo açucarando as palavras que sempre te direi! Mas o meu mundo és tu... onde me poderei fixar? ...sem um abrigo para me abrigar...

Aqui te espero, alimentando-me de sons e palavras... percorrendo os trilhos da saudade, matando o tempo contando-o! Escrevendo palavras para que possas sentir-me aí, mais perto de ti! Sinto-me grato por te poder amar, por te conhecer e por um dia ter podido dizer-te: "AMO-TE"

sábado, janeiro 01, 2005

 

 

FELIZ 2005

É a primeira transição de ano que este blog vive desde a sua criação, que remonta quase a um ano de existência... por isso este post é especial: FELIZ ANO NOVO... cheio de coisas boas, principalmente de saúde a um nivel mais individual... globalmente queria mais paz, menos tragédias... mais harmonia entre os povos, mais humanidade.

Humanidade essa que só conseguimos descobrir em tempos de crise como a que se vive actualmente no sudoeste asiático. É normalmente a única coisa positiva destas catástrofes: mostrar o que de melhor há no ser humano. Uma tragédia imensa causada por uma das mais fascinantes e poderosas forças da natureza: a força do mar! Tsunami, li esta palavra pela primeira vez, já lá vão muitos e muitos anos, era ainda um miudo, e já o meu fascínio pelo mar se manifestava o que em consequência trouxe também um fascínio pelo novo fenómeno, que anda agora na boca de todos - tsunami - nasceu em mim. Não esperaria um dia poder assistir à sua força destruidora, e muito menos aperceber-me que a força de um fenómeno destes é bem maior do que imaginava - ouvira falar em ondas de 30 metros e só assim imaginava tal destruição... estas tinham não mais de 10 metros. Enfim... o meu respeito pelo mar se já era grande... tornou-se maior.

Sentimo-nos insignificantes ao pé da força da Natureza... a mesma que não respeitamos (o que neste caso concreto não se verifica pois não foi consequencia directa ou indirecta da acção humana), a mesma que teimamos em desprezar e negligenciar (e aqui o ordeamento da costa é uma acção directa do homem, a destruição de dunas potencía e em muito uma catástrofe desta dimensão...)... é necessário uma consciencialização da nossa posição enquanto seres, parte integrande da Natureza, membros de um sistema dinâmico que tende para o equilibrio, um equilibrio feito por vezes à custa de vidas humanas, consequencia irónica da nossa própria contribuição para o desequilibrio que criamos no sistema através das nossas alterações antropogénicas... a Natureza mais não faz do que se readaptar, re-equilibrar!!

Por isso, reitero... os meus maiores desejos para 2005 são: PAZ, SAUDE, RESPEITO E HUMANIDADE nas mentes e no coração de cada um de nós, para com os nossos semelhantes e para com o que nos rodeia... talvez assim, muita coisa possa ser evitada.

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