domingo, setembro 26, 2004

 

 

Um "destino" caótico...


um perfeito caos Posted by Hello


O caminho que cada um de nós traça para a nossa vida, nunca será como uma estrada, certa e directa, infalivel e inexpugnável. Um bater de asas de uma borboleta, é suficiente para deitar tudo por terra, o caos é lei. A cada movimento, a cada particula que se move, o mundo move-se com ela. O meu respirar hoje a aqui altera qualquer coisa que acontece no outro lado do oceano - isto é a teoria do caos. Por isso, o destino não existe, por isso, o mundo mexe-se sem um destino traçado, tudo é uma reacção em cadeia... e um destino estaria sempre condenado.

A causalidade é inimiga da infalibilidade, da fatalidade, e o destino é isso mesmo: fatalidade. O mundo físico rege-se pela causalidade. Escolhemos o que queremos, mas também temos de contar com todos os factores externos a nós, por isso não podemos traçar um caminho, pois ele não irá ser trilhado como pensávamos, pois não existimos só nós, por isso não nos é traçado um destino, pois este é infalivel, e num mundo que se rege pela lei do caos, nada é certo e absoluto... no fundo, o acaso molda as nossas vidas. Quem nunca se apercebeu, que as coisas que acontecem por acaso e expontâneamente são as mais saborosas?!

O mundo físico em que vivemos rege-se, em suma, por um paradoxo: uma lei sem regras absolutas, a lei do caos. O caos que constroi a harmonia. Por isso existe felicidade, aquela felicidade que se controi em pequenos acasos, em pequenos desvios daquele caminho inicialmente traçado, aquela harmonia proveniente daquele caótico desenrolar de vivências inesperadas.

Por isso eu digo: qualquer um de nós pode alterar o seu destino, como um simples bater de asas de uma borboleta pode alterar o caminho que haviamos pensado trilhar em nossas vidas. Porque um unico grão de areia pode não estar no sitio em que deveria de estar e tudo muda, e esse destino cai como um baralho de cartas.


quarta-feira, setembro 15, 2004

 

 

O Sorriso



Uma leve brisa esbarrava na minha face contornando-a e seguindo o seu caminho. O meu corpo assimilava alguma dessa brisa, que tinha aquele aroma reconfortante e relaxante do mar, aquele mar de verão, onde o sol se banha nos fins de tarde. Essa brisa quente, que não se detinha no meu corpo e sim na falésia atrás de mim, trazia a história, contada ao meu ouvido, de cada onda que se abatia naquele fundo de areia fina e branca, onde algumas rochas se intrometiam e despontavam ao sabor das marés, desafiando a audácia de cada um daqueles seres que adoravam recrear-se nas ondas.

Pois eu sentia toda a simplicidade de um olhar sobre aquele sol bem cor de laranja, que pintava o céu de várias cores, enquanto lentamente se dirigia ao seu banho no oceano imenso. Um olhar simples, mas que se revestia sempre, e a cada segundo que passava, de um sentimento de alegria e satisfação, próprios de quem tinha acabado de sair de dentro do mundo liquido e salgado, do qual a brisa muitas histórias contava.

Passava a língua pelos meus lábios, e o sabor acre daquela água, trazia ao meu pensamento o sabor dos sonhos, sempre impregnados de mar. O sol já em declínio efémero, transformava corpos nítidos em vultos negros rasgando superfícies encrespadas de mar. Eu deliciava-me agora a olhar para aqueles com quem ainda há poucos minutos me confundia dentro de água.

Absorto nesta penumbra calma e acolhedora, assoma-se a mim, aquele sorriso familiar que me enchia a alma de alegria, aquela minha segunda vida que corria em minha direcção rindo infantilmente, excitada e feliz, descalça sobre a areia molhada buscando a imagem estática de seu pai. Ela, aquele pedaço de mim, feminino, frágil, uma boneca de porcelana que defendia com a vida e com a morte, ela que estava na aurora da vida, aquela figura pequenina, que com a sua voz aguda, de criança, reconfortava o meu coração de forma absoluta. A minha pequenina, que de sorriso largo nos lábios vinha do seu contacto simbiotico com o mar, a génese do seu ser, que tinha algo de mim, tinha também esta essência do surf, do mar em si. Ainda bem jovem, já tinha os seus maiores momentos de felicidade ali dentro, daquele a quem chamava mar, sua progenitora atrás de si escoltando a sua fragilidade, olhando pela sua cria.

E eu ali, vendo a minha filha, feliz, correndo em direcção a seu pai, com sua mãe atenta e feliz por cada gargalhada inocente da filha. A sua primeira onda, pela primeira vez havia colocado os seus pés encima da prancha e havia rasgado a sua pequena onda. Era esse o motivo do seu largo sorriso, do seu e de sua mãe.

Sua mãe, aquela a quem me havia unido para gerar a bonita flor que sorria à minha frente, o meu amor concentrado nestas duas flores de primavera, perfumadas pela mais bela das essências. As duas razões da minha existência, e tudo tinha começado ali, naquele mesmo local, naquela mesma praia rodeada por íngremes falésias, embebidos no mesmo mar, numa noite quente infiltrada entre as páginas da minha vida.

Naquela noite, o meu amor, aquela mulher a quem meu coração havia reservado todo o seu espaço, fundiu-se comigo e gerou mais uma alma feminina a quem meu coração teria de reservar mais um lugar. Naquela areia húmida, à luz daquela lua que iluminava meio mundo e incendiava nossos corpos abençoados pelo mar que os envolvia, fizemos amor, amor esse que gerou o fruto que hoje me sorri, que hoje foi feliz na sua primeira onda. E assim, seu ventre carregou durante aqueles meses o fruto do nosso amor, a razão de nossas existências. Continuou bonita ela, a mãe e sua filha gerando em seu ventre.

Aquela face alva e bonita lembrando claramente a sua progenitora quando nosso olhar se fixava em seus olhos claros, era ela a minha menina, ela o fruto de uma união entre duas almas. E pensar que toda a minha vida começara ali, no mesmo mar e na mesma terra onde hoje eu sorria, onde no passado eu sorrira, surfara , amara e gerara uma nova vida.





domingo, setembro 12, 2004

 

 

Impulso...


...... Posted by Hello

Qual é o impulso que leva um tipo, a deslocar-se cento e muitos quilómetros desde Évora, com uma prancha de surf no carro, até Sines, em pleno Inverno, para lá chegado, surfar 1 hora apenas, contemplando o sublime pôr do sol, ainda dentro de água. Saír com as primeiras estrelas no firmamento atrás de si, a despontarem timidas, comer dois donuts, beber uma Sagres de lata, fumar um canhão e comer uma maçã, pegar no carro e voltar para Évora, já com a noite como companheira, com um enorme sorriso de orelha a orelha ouvindo Bob Marley até ao seu destino?

Pois bem, como se pode depreender, esse tipo sou eu mesmo. Nessa terça feira, estava acompanhado com um amigo que alinhou numa maluqueira das minhas. Mas cheguei a fazer este itinerário sozinho... mas e afinal, qual é o impulso?

A busca incessante por parte de uma raça de seres humanos, não uma raça de cariz genético, não uma etnía, e sim, uma raça de seres que pensa e (i)racionaliza de forma diferente, essa raça de insensatos mentores de um prazer só sentido por eles mesmos - surf. Uma busca eterna, por um sem número de efemérides, efémeras manchas de felicidade a cada quilómetro que se ganha ao tempo, a cada rasgada que se desenha numa onda, a cada fio de cabelo que ondula ao sabor das marés.

O simples acto de percorrer milhas, milhas atrás de milhas, tudo na busca do equilibrio cósmico entre o espirito humano e a natureza, mãe de todas as coisas. Sublime acto de atravessar uma barreira hipnótica que nos barra o caminho a cada segundo que passa, e nos faz ficar, estáticos, presos a uma monotonia, a uma rotina grotesca, amarrados apenas aos sonhos sonolentos de um intervalo nocturno, sublime acto, esse o de atravessar essa barreira mental e voar, ser livre e seguir o sonho de um míudo, esse é o impulso.

Inexplicável por palavras, representado por actos, entendido em sentimentos. Incompreendido por quem não consegue atravessar a barreira e libertar-se da opressão pseudo-altruísta de uma sociedade gasta e escrava de uma mecanização errante.

Uma consciência global, que se tenta libertar deste "Admirável Mundo Novo", cada vez mais recorrendo à simbiose metafisica entre corpo, alma e natureza, actos de plenitude espiritual, amarrados a inumeras sensações que cada um de nós sente de forma diferente, mas com o mesmo denominador comum: a liberdade de ser verdadeiramente feliz. E cada surfista, cada viajante, ou cada surfista viajante, soulsurfer, ou o que lhe quiserem chamar, é um daqueles marginais que não sucumbe aos profetas do apocalipse, aos vendedores de sonhos baratos ou aos sorridentes mentores da salvação divina.

Amor ao surf, a paixão pela estrada, a "falta de vergonha" em sentir o pó da estrada, o frio do off-shore ou a humidade de uma gota de água, é tudo o que faz viver este ser de raça marginal, beduíno, cigano ou simplesmente: surfista!

PS: Mais um texto antigo! o último de Fevereiro deste ano. parte dele foi publicado na SurfPortugal nº135, na rubrica "Voz da Tribo". Pá, já agora comentem que sempre dá alguma pica para continuar a escrever!!!



sábado, setembro 11, 2004

 

 

nunca mais...


9/11 Posted by Hello

Fazem hoje três anos desde os atentados daquela fatidico dia 11 de Setembro de 2001.
Nesse dia o mundo mudou, o mundo chorou... a guerra começou!
Hoje passados três anos, a guerra continua, uma guerra que muitos apelidam de "nova guerra mundial", porventura menos mortifera em número de baixas, menos declarada... mas certamente mais assustadora, injusta e insana que qualquer outra guerra!

Mas eu quero PAZ!!!!!

Há que calar o fanatismo e as armas, o desenvolvimento espiritual individual tem de acontecer, o humanismo tem de prevalecer acima de qualquer dogma. Apesar do mundo ser hoje um local bem mais perigoso, cada um de nós tem o poder de mudar algo.

... e a mensagem de esperança vem na forma de uma música de Ben Harper:

Now I can change the world
With my own two hands
Make it a better place
With my own two hands
Make it a kinder place

With my own two hands
With my own, with my own two hands
With my own, with my own two hands

Now I could make peace on earth
With my own two hands
And I could clean up the earth
With my own two hands
And I can reach out to you

With my own two hands
With my own, with my own two hands
With my own, with my own two hands

I'm gonna make it a brighter place
With my own two hands
I'm gonna make it a safer place
With my own two hands
I'm gonna help Jah human race

With my own two hands
With my own, with my own two hands
With my own, with my own two hands

Now I could hold you
With my own two hands
And I can comfort you
With my own two hands

But you got to, got to use
Use your own two hands
Use your own, use your own two hands
Use your own, use your own two hands
Oh, you got to use your own two hands

With our own, with our own two hands
With our own, with our own two hands
With our own, with our own two hands

sexta-feira, setembro 10, 2004

 

 

Beleza



Começo este artigo com uma citação do grande poeta e filósofo libanês Kahlil Gibran: "Vivemos unicamente para descobrir a beleza. Tudo o resto não passa de uma forma de espera.".

Cada momento de insignificante monotonia, de rotina diária, de cinzento absurdo em nossas vidas não passam de inuteis formas de espera. A felicidade, o sentimento reluzente de um sorriso largo e verdadeiro em nossas faces personifica a cada segundo a beleza inigualável de viver.
Cada um de nós apenas quer ser feliz, por vezes nem nos damos conta disso, por vezes nem sequer pensamos nisso, mas todos tentamos encaminhar as nossas vidas para um percurso directo à felicidade. Muitos de nós esquecemo-nos do verdadeiro objectivo da nossa caminhada, outros perdem-se a meio, mas todos nascemos do mesmo ponto, com o mesmo objectivo: descobrir a beleza de viver, ser feliz.
Somos, muitas vezes, enganados por nós próprios, quando queremos atingir a felicidade como se esta fosse um prémio que receberiamos ao fim de um determindado numero de tarefas realizadas com êxito. Ser feliz não é isso, não interessa o destino de uma viagem, o que interessa é a jornada, cada perípécia, cada momento agradável, cada boa vibração que recebemos e que oferecemos a quem nos rodeia, ser feliz é aproveitar ao máximo, cada um desses momentos que a vida nos proporciona.
Por isso não posso dizer que sou feliz, não posso dizer que sou infeliz porque absolutamente ninguém o é. Cada momento que tenho tido, tenho tentado aproveitar, cabe a nós também, e baseados no livre arbitrio com que Deus nos brindou, buscar mais e mais momentos de felicidade, mas nunca esquecendo a beleza pela qual esperamos, nunca tornando a nossa vida numa sala de espera bucólica e triste.
Mais uma vez a foto não tem à primeira vista, nada a ver com o assunto, mas também, e porque somos todos muito diferentes uns dos outros, o que para uns parece belo, para outros poderá aparentar indiferença ou mesmo repulsa, no entanto esta foto representa um grande exemplo do que para mim é belo. Uma onda, uma prancha de surf e uma mulher, uma simbiose perfeita entre as coisas que mais amo na vida: o surf, o mar e a mulher!

 

 

mais um dia...


lol Posted by Hello
Bom, hoje vai qualquer coisita mais pessoal. Qualquer das formas, a seguir posto mais um dos artigos antigos, que estão no Surf, Sopas e descanso versão 1 do sapo!

Hoje tive um dia um pouco fora do normal... bom... já tava aqui a escrever grande cena sobre o meu dia, mas fartei-me, por isso... a saber: o meu coração está OK (disse-mo o médico), telefonei a alguém muito especial que está a passar uma fase bem má (foi mesmo para dar uma força), e gastei seis contos (30euros) em três livros - Poemas de Victor Hugo, Em busca do tempo perdido de Marcel Proust e O sol nasce sempre (fiesta) de Ernest Hemingway - eu de vez em quando dá-me estas pancadas e lá se vai dinheiro! Bom... e neste momento capto o som fantástico duma das minhas bandas preferidas Shelter, a música chama-se Mantra! Enfim... é um som lindo, poderoso, melódico, cheio de significado, esbanja energia positiva por todo o lado. Brutal mesmo...

Ah, para a semana já cá estão os caloiros... eheheh

Por fim aqui fica o excerto de um poema que li num dos livros que comprei hoje...

Estava só junto às ondas, numa noite de estrelas.
Nem uma nuvem nos céus, nem no mar velas.
Meus olhos viam para além da realidade.
E os bosques, os montes, e toda a natureza,
Pareciam falar num murmúrio de incerteza
Às ondas, à claridade.

- Victor Hugo -



quarta-feira, setembro 08, 2004

 

 

A face da Eternidade


Ouvi soar a campainha, saltei da cadeira e sonhei em apanhar o sol com as mãos!
Corri o mais que podia em direcção aos portões da escola, da escolha que fiz há dois anos. Segui em frente sem olhar para trás. Cheguei à conclusão que havia perdido o tempo a sonhar no imprevisível campo das possibilidades. Pude então virar a minha atenção para a imagem sempre viva de um rosto belo, talvez o mais belo que alguma vez vira. A impossibilidade era agora uma palavra varrida do meu dicionário pessoal, intransmissível como qualquer hipotético bilhete de identidade.Em nome de um sonho, os meus pés eram acelerados processos de produção de vitalidade, o meu coração interrompia uma longa letargia existencial, o mundo afinal sempre rodava... alguém o disse um dia, mas as interpretações foram sempre tristemente pobres. A minha vida adquiriu uma cor nunca antes vista, uma cor que não existia no mundo em que anteriormente vivia, uma cor sem simplificação descritiva.
Escassos metros me separavam do imenso caos, a aventura de correr naquela calçada irregular, fria e húmida por esporádicas gotas de chuva que se precipitavam, como uma benção, um sinal de libertação, a vida nas mãos do seu detentor. Expulsei o medo e corri... na direcção da matéria, fugindo do vazio, da escuridão, das trevas que inundavam o cenário atrás de mim.Cheguei por fim, vi-a olhar-me de soslaio, a inquietação de alguém que desconhece a verdade, o receio do desconhecido. O seu olhar indiferente repousou sobre o meu ofegante deambular, uma correria desgarrada finalizada num olhar indiferente. Parei então, o seu olhar foi efémero mas penetrou a minha alma, os seus cabelos voltaram a sorrir-me e os seus pés soltaram a energia como anteriormente. Vi-a afastar-se novamente, no entanto agora estava parado, o coração parecia ter parado de bater, estava no meio do caos, a luz paralisara-me a fuga, a escuridão voltara. A luz afastava-se.
O momento era solene, não ouvia, não via, não sentia, um túnel parecia formar-se no meu campo de visão, senti o frio cortante, senti... ouvi e vi, mas a dormência apoderara-se de mim, havia sido apenas um intervalo na minha incapacidade de viver aqueles momentos.
Naquele túnel, apenas um pontinho ínfimo de luz era visível. A minha vida passava em frente aos meus olhos em forma de pedaços separados, qual puzzle de mil peças, a minha alma parecia cada vez mais distante do meu corpo. A luz era cada vez mais ténue, uma estrela em colapso, a viagem sem regresso. A tranquilidade encarnava em mim como nunca antes a havia sentido, a felicidade parecia irreal, nunca o negro me parecera tão sublime!
A estrela, era já uma sombra do que fora, o presente estava cada vez mais perto de completar o puzzle da minha vida, a ultima imagem invocava a beleza, a mais bela face que alguma vez vira... aquela face linda, aquela luz que transbordava de um olhar indiferente, a ultima memória.
Mas... de repente, a memória invoca a velocidade vertiginosa em direcção à luz que parecia quase imperceptível, os meus olhos transbordam de luz, a face salvadora apresenta-se na forma de uma imagem iluminada, regresso à realidade, vejo uma amalgama de luz, brancura, aparelhos e ruídos vários. No centro, lá estava aquela face, a beleza universal de uma salvação improvável. A sua expressão mudou radicalmente, antes parecia triste ao me ver de volta, soltou um sorriso que nunca lhe tinha visto, senti a sua bonita voz entrar-me pelos ouvidos como música encantada. O caos, sobressaiu e novas caras os meus olhos descobriram, corpos vestidos de branco, as suas faces eram benévolas, eu centrava as atenções, sorrisos eram a faceta de uma realidade. Mas o meu campo de visão só fixava aquela rapariga de feições extasiantes.
Minutos passaram, estava de volta, a minha alma estava agora mais do que nunca, ligada ao meu corpo. Finalmente só, eu e aquela que perseguia, aquela que me traria a felicidade, tinha agora a certeza. Ela olhou-me com um sorriso, um sorriso divino, uma parte de um todo, a sensibilidade de um ser evocado na volúpia dos lábios. A sua mão percorreu a minha face, senti a paz, sorri então, ela aproximou a sua cara da minha, o sonho terminara, a realidade tomara o seu lugar. Os seus lábios tocaram minha face, uma lágrima escorreu pela sua cara e caiu na minha. A minha mão, refém de um sem numero de objectos estranhos ao meu corpo, foi de encontro à sua face, o polegar limpou aquela intrusa liquida e salgada que interrompia um sorriso lindo.Repentinamente, um som agudo, maquinal interrompe este momento, um estranho frio volta a apoderar-se do meu corpo, a luz parece ser cada vez mais intensa, parece explodir. O meu olhar continua fixo nos olhos dela, mas algo estava a quebrar o sentido da realidade actual, a expressão dos seus olhos modifica-se repentinamente, e vejo a tristeza, vejo aquela mão que antes me tocara a pele retirar-se e refugiar-se em concha de frente ao bonito mas transformado sorriso, sei que este se havia retirado. Os seus olhos começam a expulsar lágrimas em convulsão, enquanto a luz é cada vez mais intensa. O caos volta, as batas brancas envolvem-me novamente, as expressões são agora de inquietação e urgência. A mão dela continuava de frente à sua boca, os seus olhos continuavam nos meus mas cada vez mais húmidos de lágrimas. Eu começava a ter dificuldades em vê-la, a luz cegava-me, a paz parecia adquirir novamente a minha alma. Deixei de ver os seus olhos, a sua face, as suas mãos... o som estridente desaparecera, a calma voltara.

Estava agora numa praia onde apenas sentia o vento, as dunas por trás de mim, as ondas perfeitas a quebrarem à minha frente. A liberdade absoluta, a calma extrema, e não apenas aparente, a felicidade... lembranças de uma vida, lembranças dos que amara, lembranças de um monstro de chapa que me trouxera de encontro ao sitio onde estava, naquele dia em que aquele olhar pela primeira vez me havia tocado a alma, nesse mesmo dia em que esse olhar se tinha envolvido naquela luz que me cegara para sempre e me fizera partir de encontro aquela praia eterna. A vida, a morte, o amor, tudo parte de uma existência... uma existência que não terminara, nem nunca terminaria.

terça-feira, setembro 07, 2004

 

 

Snow Patrol - Run


all my love for... Posted by Hello

Esta música é linda... diz-me alguma coisa (talvez muita coisa!!!):

I'll sing it one last time for you
Then we really have to go
You've been the only thing that's right
In all i've done.

And I can barely look at you
But every single time I do
I know we'll make it anywhere
Anywhere from here

Light up, Light up
As if you have a choice
Even if you cannot hear my voice
I'll be right beside you dear

Louder, louder
And we'll run for our lives
I can hardly speak I understand
Why you can't raise your voice to say

To think I might not see those eyes
It makes it so hard not to cry
And as we say our long goodbyes
I nearly do.

Light up, light up
As if you have a choice
Even if you cannot hear my voice
I'll be right beside you dear

Louder, louder
And we'll run for our lives
I can hardly speak I understand
Why you can't raise your voice to say

Slower, slower
We don't have time for that
All I want is to find an easier way
To get out of our little heads

Have heart my dear
We're bound to be afraid
Even if it's just for a few days
Making up for all this mess.

Light up, light up
As if you have a choice
Even if you cannot hear my voice
I'll be right beside you dear

Snow Patrol - Run

 

 

A primeira vez

Ainda me lembro, como se fosse hoje, o primeiro dia em que coloquei o meu peito nu em cima da minha velha e usada prancha de surf, uma Semente velhinha e desgastada, de um branco sujo, que fazia adivinhar alguns anos de intensa labuta, shapada pelo grande shaper da Semente, o Pico. Comprada em segunda (ou terceira, ou... mão!) Sem pontinha de wax, meu peito nu e sem neoprene nem lycra, sem shop para agarrar o pé à minha companheira. A ansiedade era mais que muita, a praia chamava-se Odeceixe, o som das ondas ecoava na minha alma há muito, o vento fraquinho era dádiva divina, o sol brilhava lá no alto, em pleno Verão... no calor de Agosto. Eram horas de folga, folga do meu primeiro trabalho de Verão longe da minha terra onde o mar não chega, a não ser pela televisão, pela Surfportugal e através dos meus sonhos sorridentes. O estilo desajeitado do meu corpo em cima daquela tábua de foam e fibra de vidro, eram notórios, deitado em cima dela, eu me desequilibrava, fugia-me ela, era arisca, dificil de convencer... sem wax e sem shop, escusado será dizer que passei o tempo todo a tentar apanhar a prancha lá, ao pé da areia onde velhos e novos se deliciavam com a magia do mar. Rapidamente me dei conta que uma prancha de surf não é um bloco rigido e firme debaixo dos nosso corpos, é antes um cavalo por domar que é necessário domesticar e acalmar, constatei que surfar não é uma simples tarefa, é uma arte, daquelas que apesar de tudo está ao alcance de qualquer um que ame e viva para o mar. Foi o meu primeiro dia, o dia em que finalmente concretizei um sonho... ainda hoje o vivo, ainda hoje gosto de sentir o sal no corpo, o frio da água aquecer no meu corpo dentro do fato de neoprene, de sentir os meus pés gelados da areia, aquecerem na água "quente" do mar de inverno, de passar a mão pelos meus cabelos molhados, de sentir o sal nos lábios, olhar o céu e agradecer o momento. Por isso aquele dia ficará para sempre marcado na minha memória, apesar de nada ter conseguido fazer, de se ter resumido a um acumular de quedas e enrolanços nas ondas, aquele dia foi feliz, um sorriso encontrava-se estampado na minha face, apesar das nódoas negras nas pernas, apesar do cansaço... o sorriso de um menino com 17 anos, de um adolescente que aprende finalmente a magia que é deslizar e sentir o seu corpo fazer parte integrante da natureza. Para sempre aquele local será mágico para mim! E vão quatro anos desde a primeira vez!

ps: mais um post do antigo blog alojado no sapo!

 

 

resposta a duas perguntas


flor Posted by Hello
Antes de mais, e como estás longe, minha Sereia... ofereço-te esta flôr - bela e alegre como tu. Deixaste uma pergunta no ar... terão sido duas?
Amor platónico, se tenho? Não é fácil responder a essa pergunta... porventura é mesmo perigoso - digo-te sim e posso estar involuntariamente a mentir, digo-te não e estou a acobardar-me. Acho que o amor platónico, nasce em mim, crescerá como esta flôr e atingirá o esplendor... sendo que para isso, e tal como uma flôr precisa de água para viver, aquela água que só tu, minha Sereia me podes proporcionar... afinal, és o mais belo ser dos Mares!
A 2ª pergunta... se tenho receio de amar?! Não, nunca em tempo algum. Porque como disse Gibran tal como te mostrei: "Receias a luz do sol? Receias a água do mar? Receias a aurora do dia? Receias a chegada da Primavera? Pergunto-me porque recearás o amor.". Como se pode recear a essência da própria vida?

Para ti, minha Sereia... tudo de bom, aquele beijo! E quiçá... o meu amor!

segunda-feira, setembro 06, 2004

 

 

O desespero... a esperança


ondas Posted by Hello
Kahlil Gibran é um dos meu escritores favoritos, da sua escrita exala o irracional perfume do sentimento paradoxalmente salpicado pela mais racional sapiência e lucidez. Um homem que diz grandes verdades em simples palavras. Aqui fica um excerto de uma das suas muitas cartas a May Ziadah, o seu grande amor - uma vida inteira de um amor platónico alimentado pelas mais belas cartas de amor!

«O desespero, May, é a onda mais baixa da maré do coração. O desespero, May, é um sentimento sem voz. Por isso é que eu costumava sentar-me à tua frente durante aqueles longos meses, olhando o teu rosto sem nada dizer. Por isso é que não escrevi quando me cabia a mim fazê-lo. Por isso é que costumava sussurrar para mim mesmo "já não tenho nenhum papel a desempenhar." Mas no coração de cada Inverno palpita uma primavera, e por detrás do véu de cada noite existe uma manhã sorridente; e assim o meu desespero tornou-se numa forma de esperança.»

Kahlil Gibran - Nova Iorque, 3 de Novembro de 1920 - excerto retirado de uma das cartas publicada no livro "As Mais Belas Cartas de Amor"

 

 

Jornada de Uma Onda

Este é o primeiro grande artigo do meu blog que está alojado no Sapo.pt... é o primeiro de muitos que vou transferir para aqui, será um processo gradual e que levará algum tempo até estar completado. Estou a pensar transferir pelo menos um em cada dia. Depois se verá. Aqui fica, então:

A vida é um pequeno desfilar de sensações. Uma amálgama de sentimentos, ilusões e decepções, regozijo e extase. Uma onda no mar percorre todo o oceano esbarrando na costa mais ou menos acidentada terminando aí a sua viagem. Nasce lá longe em alto mar, no auge furioso de uma qualquer tempestade, alimenta-se do seu elemento, esbarra em obstáculos perdidos no imenso mar, vive para um fim, fim muitas vezes inalcançado, um fim que nunca chega, uma jornada em vão como muitas vidas... como muitos de nós que nunca saberemos o que afinal viemos aqui fazer! Assim as ondas atingem a costa, a morte espera ao fim de muitos quilómetros, de muitos obstáculos, até que num derradeiro impeto, a onda cresce, crispa a sua crista e abate-se furiosamente no baixio costeiro, qual inevitável morte. Essa onda nasceu, sobreviveu, e morreu. Ninguém a viu, ninguém se importou, em vão esta onda desfilou pelos oceanos mostrando a sua verdadeira beleza ao chegar perto da costa, antes de se abater em segundos... alguém gostaria de a ter abraçado, contemplado, interagido. Alguém que por um acaso não se encontrou com esta onda, mas que poderia tê-lo feito caso o acaso o tivesse permitido. Um surfista, esse ser estranho, teria sido muito feliz se alguma vez tivesse apanhado essa onda. Mas não... ela morreu em vão, sem ninguém que a absorvesse. Em vão são também a maioria das vidas que se vivem, como as ondas que se abatem na costa. Algumas interessantes, outras menos, mas sempre valorosas, com o único senão, de o acaso nunca as ter desvendado a quem muito provavelmente as teria como algo muito importante. Surfar uma onda, comtemplá-la, admirá-la... ver nela uma das mais belas expressões da Natureza, é um raro exercicio de justiça. Raro, porque poucos são os que sabem dar a devida importãncia ao que realmente é importante nas suas vidas, uma onda, um sentimento profundo, um cheiro, uma atitude, a Natureza... a própria vida. Assim temos muitas ondas que vivem em vão, porque não souberam, porque não conseguiram ou simplesmente porque o acaso não deixou, que as suas jornadas fossem verdadeiramente reconhecidas e aproveitadas por quem delas saberia retirar o devido valor. A onda, tal como o Homem, aproveita os osbtáculos para aprender a continuar, modificando-se constantemente ao longo da sua jornada rumo ao inevitável. Por vezes modifica-se tornando-se ainda mais bela, outras vezes perdendo fulgor e qualidades, poderá por isso chegar à costa mais ou menos interessante aos olhos do surfista, mais bela, mais perfeita, limpida e ordenada... dará sem duvida uma bela sessão de surf! Poderá no entanto chegar mole, desordenada, pequena e feia, desinteressante para surfista, mas talvez fascinante ainda, para outros seres de diferentes percepções. A onda foi surfada, contemplada e valorizada, não fez a sua jornada em vão, conseguiu ou teve a sorte de encontrar a sua verdadeira razão de ser. Foi bem sucedida e alinhou na equipa dos desalinhados, dos que conseguem aproveitar a viagem pelos tortuosos caminhos da vida, dos que realmente vivem para algo, dos que não dão por mal empregue a sua estadia neste mundo. Não são a maioria, longe disso... mas podem ser o exemplo de que uma vida, tal como a jornada de uma onda, apesar de muitas vezes desperdiçada, é uma coisa preciosa demais para que não se lute por a viver, sentir, viver os momentos intensamente procurando a felicidade. Quem pensar um pouco no sentido da sua vida, terá sempre o impulso para a valorizar, não será o suficiente, mas já é um inicio.

domingo, setembro 05, 2004

 

 


header Posted by Hello

 

 

1,2,3...

1,2,3 test... isto é só o começo e como é um pouco mais complexo que o sapo, tem mesmo de começar assim. vou antes de mais começar por alterar algumas cenas no aspecto do blog e só depois começarei a postar ao sério... e tudo porquê? Porque o sapo é uma merda!!! Está cada vez pior... ainda não sei se vou transferir todos os textos do sapo para aqui ou não! Isso dar-me-ia um trabalhão dos diabos!!!

Merda para o Sapo, tenho um blog mesmo ao meu gosto com montes de alterações nos templates, com o visual personalisado e tudo... com leitores habituais e até com uma pequena citação na revista Magnólia #4. Mas fdx, não consigo aturar mais aquele serviço de merda prestado pelo sapo. Mas já agora, a saber... o blog antigo com o mesmo nome deste fica em http://surfvidamorte.blogs.sapo.pt

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