terça-feira, setembro 07, 2004

 

 

A primeira vez

Ainda me lembro, como se fosse hoje, o primeiro dia em que coloquei o meu peito nu em cima da minha velha e usada prancha de surf, uma Semente velhinha e desgastada, de um branco sujo, que fazia adivinhar alguns anos de intensa labuta, shapada pelo grande shaper da Semente, o Pico. Comprada em segunda (ou terceira, ou... mão!) Sem pontinha de wax, meu peito nu e sem neoprene nem lycra, sem shop para agarrar o pé à minha companheira. A ansiedade era mais que muita, a praia chamava-se Odeceixe, o som das ondas ecoava na minha alma há muito, o vento fraquinho era dádiva divina, o sol brilhava lá no alto, em pleno Verão... no calor de Agosto. Eram horas de folga, folga do meu primeiro trabalho de Verão longe da minha terra onde o mar não chega, a não ser pela televisão, pela Surfportugal e através dos meus sonhos sorridentes. O estilo desajeitado do meu corpo em cima daquela tábua de foam e fibra de vidro, eram notórios, deitado em cima dela, eu me desequilibrava, fugia-me ela, era arisca, dificil de convencer... sem wax e sem shop, escusado será dizer que passei o tempo todo a tentar apanhar a prancha lá, ao pé da areia onde velhos e novos se deliciavam com a magia do mar. Rapidamente me dei conta que uma prancha de surf não é um bloco rigido e firme debaixo dos nosso corpos, é antes um cavalo por domar que é necessário domesticar e acalmar, constatei que surfar não é uma simples tarefa, é uma arte, daquelas que apesar de tudo está ao alcance de qualquer um que ame e viva para o mar. Foi o meu primeiro dia, o dia em que finalmente concretizei um sonho... ainda hoje o vivo, ainda hoje gosto de sentir o sal no corpo, o frio da água aquecer no meu corpo dentro do fato de neoprene, de sentir os meus pés gelados da areia, aquecerem na água "quente" do mar de inverno, de passar a mão pelos meus cabelos molhados, de sentir o sal nos lábios, olhar o céu e agradecer o momento. Por isso aquele dia ficará para sempre marcado na minha memória, apesar de nada ter conseguido fazer, de se ter resumido a um acumular de quedas e enrolanços nas ondas, aquele dia foi feliz, um sorriso encontrava-se estampado na minha face, apesar das nódoas negras nas pernas, apesar do cansaço... o sorriso de um menino com 17 anos, de um adolescente que aprende finalmente a magia que é deslizar e sentir o seu corpo fazer parte integrante da natureza. Para sempre aquele local será mágico para mim! E vão quatro anos desde a primeira vez!

ps: mais um post do antigo blog alojado no sapo!

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