domingo, novembro 26, 2006

 

 

Paz

“Shelter” é o nome de um dos mais aclamados e geniais filmes de surf de sempre. Obra prima de Chris Malloy e Taylor Steele onde pontificam Rob Machado, Donavon Frankenreiter, os irmãos Malloy, Taylor Knox, Shane Dorian, Kelly Slater, Ben Harper e companhia.

“The best technological advance in the world is peace”

A frase é de Ben Harper, algures na trilha sonora que acompanha todo o filme, numa viagem de simbióticas formas de comunicar, transformando o visionamento do mesmo numa experiência infinitamente agradável.
Shelter é daqueles filmes imperdiveis, não só para os apreciadores do género (os surfistas) mas também para o comum dos leigos. Em nenhum outro filme de surf, na minha modesta opinião, é possível observar de uma forma tão sublime, todos os principais aspectos da condição do que é “ser surfista” e do que significa viver e respirar o espírito livre do surf, sem preconceitos.
Tudo está no seu lugar. As imagens, o som. O tónico experimentalista, não se cinge à banda sonora, todo o filme é um laboratório de ensaios e experiências. Fórmulas mágicas são preparadas, numa alquimia de elementos que se conjugam. A alma se funde no mar, nas pranchas, na areia, nas guitarras e aí se expande, presenteando-nos com os mais belos exemplos de como deve ser a verdadeira essência das nossas relações humanas e para com o que nos rodeia, neste caso o mar e aqueles que como nós partilham da sua magia.
Mais do que surf, Shelter mostra a beleza das coisas simples. A beleza de uma pequena e modesta casa em madeira num remoto recanto da costa da New South Wales australiana. A beleza da musica, das jam sessions nocturnas, das palavras deambulantes de ilustres surfistas e músicos. A beleza suprema dos actos, a nobreza das relações humanas, o altruísmo e a partilha, como momentos intrinsecamente ligados ao estado de alma de ser surfista. Pormenores que raramente observamos ligados ao surf. Não raramente nos concentramos apenas no acto de surfar, falamos, escrevemos e reflectimos numerosas vezes acerca apenas do acto de surfar. Damos pouca atenção ao que o rodeia, e ainda menos ao que verdadeiramente interessa naquilo que o rodeia – e assim se faz o quotidiano do surfista, na maioria das vezes. Em Shelter, é possível, observar e absorver a importância do “resto”. Existe surf, mas existe também o resto, os pormenores que dão ainda mais magia ao “ser surfista”. Pelo menos é assim que eu entendo, e certamente este filme vem de encontro aquilo que eu, enquanto homem, absorvo da experiência única que é ser surfista.
Talvez o filme seja demasiado idílico. A imagem estupidamente romantizada do surf de alma, demasiado perfeito que se distancia da realidade. Um olhar superficial pode revelar este tipo de conclusão. Mas um olho mais clínico, paradoxalmente sonhador até, facilmente discerne que na vida, só depende de nós próprios enquanto seres, vivê-la segundo muitos dos paradigmas retratados em Shelter.
No fundo, tudo se resume à frase de Ben Harper... Paz. Paz e harmonia é o que se encontra em Shelter. Paz é o que deve ser o surf. Paz é o que devemos encontrar na nossa experiência enquanto surfistas... enquanto homens e mulheres.

O exemplo de tudo o que disse, é possível de observar neste pequeno trecho de filme...

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