domingo, outubro 10, 2004

 

 

...um intervalo na Vida...



Era sufocante a chuva que me caía em cima. Cada gota, trazia em si o sentimento de uma nuvem, abatia-se sobre mim, a infima parte do omnipresente espirito da Natureza. O meu corpo, expelia o calor, um leve fumegar desprendia-se de mim, parecia estar-me a vaporizar, minha alma deixando o meu corpo a pouco e pouco. Envolto em água, o mar, a chuva que caía, a experiencia transcendente de duas forças com o mesmo denominador comum: a Água. Provava o sal e doce sabor deste mesmo elemento, a vida liquida, salgada, doce... Esperava, sentado em cima da minha prancha, por uma manifestação caótica de perfeição, desenhada naquele mar que me cercava.

Lá longe observo, aproximando-se de mim, uma longa linha, um testemunho da fúria de uma tempestade longinqua, uma onda, percorrera milhares de quilómetros para, a toda a velocidade se aproximar de mim, ali sentado, à sua espera, banhado por um misto de água salgada, e robustas gotas de água doce que se precipitavam sobre mim, indiferentes ao suspiro de um ser. Nuvens densas, cinzentas, sem uma ponta de alegria, um dia chuvoso era tudo o que conseguia discernir ao olhar à minha volta. Mas olhando o horizonte, via aquela onda aproximar-se...

Estava sentado, mudo de posição, barriga contra a prancha, cabeça levantada. Começo a mudar de direcção, de modo a colocar-me perpendicularmente àquela linha formada pela onda. Tomo consciência do seu tamanho, hesito...era enorme, conservava provavelmente o maior sopro de vento daquela tempestade algures na Terra Nova. Não podia desistir, tinha de domá-la, remo com todas as forças, a sua crista encrespa e eu lá no topo olho para baixo. Parecia no topo de um prédio, seria crítico, o take-off. Dropo, a toda a velocidade desço aquela parede, uma velocidade vertiginosa... mas, a eternidade invade aquele segundo em que o nada se apodera daquele espaço. Sou engolido. A onda envolve-me, um abraço mortal, o turbilhão caótico que me suga, apodera-se do meu corpo, da minha respiração, dos meus movimentos angustiantes, e rapidamente da minha vida.

O meu corpo parecia desintegrar-se a cada violento safanão, cada molécula parecia querer desprender-se da sua vizinha, meu corpo rodava, abanava, gravidade zero, a noção de tempo e espaço deixaram de existir, não sabia que posição o meu corpo ocupava, em relação à Terra, parecia no entanto estar no fim da linha, daquela linha que todos temos desenhada na mão, aquela a que chamam Linha da Vida...

Um silêncio, a escuridão apodera-se de tudo, sinto-me no fundo, empurrado pela força da onda, a calma começa a reinar, lá no fundo onde o breu é medonho. Tudo se desenvolve numa lentidão, o meu corpo parece leve, muito leve, paradoxalmente pareço cada vez mais afundado naquele oceano. A calma mistura-se com a angustia, o silêncio parece misturar-se com um ruído indecifrável, uma dimensão povoada de antíteses. O meu corpo parece cansado, e as forças abandonam-no, deixando de lutar...

Meus braços, sem força, deixam-se levar pelo atrito do fluído enquanto meu corpo desce, desce lentamente... mas... vindo do nada, sinto algo que me segura e puxa de novo para cima, um braço, uma mão que encaixa na minha e me sobe, retornando meu corpo inerte, de novo à superfície vital. A jornada até ao topo parece longa, a escuridão, o silêncio e a calma parecem, progressivamente desaparecer, e o mundo dinâmico e ruidoso reaparece diante da minha percepção. Minha cabeça inrompe repentinamente, perturbando aquela supeficie liquida regular. Olho para a minha prancha, ao meu lado, apenas metade dela persistia ali, fiel para que me pudesse auxiliar. Agarrei-me a ela, exausto. Olho em volta tentando descortinar aquele ou aquela a quem ficaria em dívida para o resto da minha vida, mas nada nem ninguém vislumbro. Aquele espaço estava igual... vazio, sem mais nenhuma alma, além da minha.

Fico perturbado. No entanto feliz. Olho em volta, deixara de chover, a minha respiração estava ofegante como nunca estivera, olho o horizonte, e naquele cinzento denso, uma aberta se havia formado e dela inrompiam raios de luz provenientes do sol outrora escondido, iluminando uma vasta área lá bem longe, até onde meus olhos alcançavam. Por momentos pareço sentir que algo subsiste a meu lado, uma companhia, uma presença, então um arrepio me invade, olho a minha mão...

...a Linha da Vida, estava lá, interrompida a meio, muito ténue nesse pequeno troço. Olho novamente o horizonte e esboço um sorriso.
Comments:
pá....tá... ta ....nem sei ta indescritivel!!aaté parecia k tava lá...nnc pensaste em escrever um livro??eu d certeza k seria uma das leitoras =)****** (consegui um tempinho pa ler, ena ena oba oba =P lol)
 
No pain, no gain:-)
NCR
 
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