sábado, agosto 19, 2006

 

 

A onda da minha vida...


A tarde estava amena... essencialmente devido à nebolusidade existente no céu, e que poucas vezes deixava que os raios de sol de facto aquecessem em demasia o ambiente (ainda assim, tenho a pele do corpo prestes a saltar). O mar estava mexido, um meio metro partia bem junto à falésia que delimitava, a Sul a bela praia do Malhão. Em dias clássicos, ali partia uma esquerda magnifica e poderosa, sobre um fundo misto de areia e calhau. Mas hoje, não... hoje o meio metro era servido com vento (e ainda 1mm/h de chuva, segundo o Windguru, o que se confirmou) onshore, transformando um swell de meio metro numa manta de retalhos salgada e húmida. Por todo o litoral alentejano, as condições eram similares... nos Aivados é melhor nem falar disso!!! No Malhão Grande o swell parecia estar a entrar um pouco melhor, mas ao mesmo tempo o vento também fazia das suas. O vento on-shore (de Oeste) caprichoso teimava em pregar-nos partidas ao longo do dia... ora rodando e ficando de Sul, ora mantendo-se teimosamente de Oeste.

Àquela hora, o vento estava de Sul, e era precisamente ali, junto àquela Cabeça de Urso no cimo da falésia, que o mar estava mais satisfatório, resultado da barreira fisica que o próprio acidente geológico proporcionava, ao barrar o Vento sul. A esquerda que ali costuma partir, parecia estar uma amostra de si mesma, ainda assim, sob a égide do urso mantinha-se consistente por 2o a 25 metros de comprimento, sem se partir ou dissipar. Obrigado Urso!!!

Como era de esperar, pela temperatura do ar e pelo avançado da hora (17:30) entrei de fato. O Mav mantinha-se ainda sem entrar, esperando mais alguns minutos pelo término de uma digestão dificil de chouriça e cerveja. O meu primo ja andava la dentro tentando apanhar algumas no inside, e o Pedro ja calcorreava o outside procurando pelas maiores esquerdas, lá junto ao calhau!! Rapidamente e dolorosamente me dei conta que o fato de neoprene estava insuportavel - tinha o pescoço completamente assado - e era uma tortura autêntica andar dentro de água salgada com a pele quase em ferida. Seguindo o exemplo do Pedro, abri um pouco o zipper do fato para tentar aliviar a coisa... mas foi pior a emenda que o soneto. A água entrava aos litros para dentro do fato e rapidamente me tornei num balão de água. Saio e vou apenas de calções - mal sabia eu que seria desta forma que faria a melhor onda da minha vida (até agora!!!!!).

Ao regressar ao mar, apanho o Pedro a terminar uma onda. Resolve então dar-me umas dicas para tentar apanhar e levantar-me correctamente na onda. Trocamos umas frases e somos interrompidos pelo set... uma onda se perfila no horizonte e eu, rapidamente me posiciono para a apanhar. Ainda embuido no espirito técnico das explicações de Pedro, começo a remar... Pedro incentiva-me "Vai, vai, vai...". A calma e a concentração apoderam-se de mim... remo com vontade e vigor e é com facilidade que entro na onda. No seguimento e como se de câmara lenta se tratasse, coloco as mãos na prancha, estico o pé de trás e levanto a perna da frente. Uns milésimos de segundo para colocar o pé da frente e o pé de trás numa posição mais equilibrada... et voilá... sinto-me em cima da prancha, sinto a velocidade da onda que impulsiona a prancha para a frente. Tento cortar para o lado... mas a minha posição pouco flexivel em cima da prancha e a perda de força da onda, fazem-me afundar no mar. Nunca antes me afundei com tanto prazer no mar, como dessa vez. Um sorriso aberto tomou conta do meu rosto. Senti-me excepcionalmente bem... feliz, alegre... Para alguém a quem o surf não guarde segredos, estas palavras terão pouco significado por si só... mas certamente que a todos esses, quando recordarem a primeira onda a sério que conseguiram sentir debaixo dos pés, estas palavras soarão familiares.

Foi a primeira onda dessa sessão que durou pouco tempo. Essa onda deu-me energias e motivação para o restante do tempo que estive no mar. Também pela primeira vez, senti-me confiante e com uma pica enorme em remar para o outside e apanhar as maiores (ainda que as maiores fossem pouco mais que 0,5m). Ainda tentei apanhar mais algumas... mas o mais perto que tive disso, foi quando eu e o Mav apanhámos a mesma onda e numa fracção de segundo que gastei a olhar para ele, foi o suficiente para me desconcentrar e para já não conseguir colocar-me em pé nas condições ideais!!

Foi, para mim, o ponto alto da minha primeira surf-trip, já bem no fim do ultimo de dois dias pela Costa Alentejana com mais três parceiros 5 estrelas: o Pedro, o master do grupo com mais surf que qualquer um de nós; o Mav, um ribatejano que ama a Foz do Arelho e o meu primo Bruno, um puto de 16 anos que experimentou pela primeira vez o surf e a experiencia única da companhia de 3 surfistas de alma e coração!!!

Para breve fica, a crónica inteira desta viagem magnifica! Também para mim a primeira surf-trip...

Um grande abraço a todos!!
Comments:
1,2,3 experiência...
só para ver se isto está a trabalhar com coerência!!
 
Se eu conseguisse transferir da minha memória para o computador as recordações que guardo, tinhas a esta hora um pequeno filme do momento que descreves... lembro-me do teu entusiasmo ao ver-te a remar de forma decidida, do "vai, vai, vai..." ao ver-te certeiro a ganhar velocidade na onda e do meu sorriso a ver-te de pé e a cortar... pq tu ainda cortaste um pouco a onda...

Acredito que no surf há espaço p se ir aprendendo sempre ao longo da vida... desde o primeiro deslizar de pé na prancha, ao primeiro floater, ao primeiro chapelinho, ao primeiro tubo, à primeira tentativa de aéreo, àquele gesto mais acertado, à melhoria de estilo...

Talvez seja essa uma das questões mais positivas neste nosso desporto, é que tem sempre p nos oferecer esses momentos em que ficamos extasiados e nos deixamos afundar em pose imperiosa...

Assinado o master do grupo (LOLADA)
 
Grande descrição, parabéns!
Como estou a aprender a surfar, identifiquei-me completamente com o relato. Boas ondas
 
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