segunda-feira, setembro 04, 2006

 

 

Amor e Paixão.

foto by Cuze

O seu coração um dia sentiu a nortada salgada que sempre assola as terras do mar. Absorveu o mais nobre dos condimentos para nunca mais o largar, qual campo salgado onde não mais nada cresce. Mas neste caso, o exemplo é paradoxal... o sal no seu coração significou o nascimento, a génese... o começo de uma nova etapa numa curta vida. Uma porta para os horizontes azuis deste mundo. A caminhada em direcção ao pôr do sol, sob um manto azul e salgado chamado oceano.

Foi esse o dia em que o menino da terra se alimentou do mar, e do sal que nele inscreve a sua identidade sagrada. Foi nesse dia que o mar rompeu a terra e chegou aos confins da interioridade.

Mais tarde, o mar mostrou ao menino a sua mais bela expressão de vida - a onda! O sal em seu coração disse-lhe imediatamente que, como menino do mar, aquela onda pedia para ser possuida, domada... Para o menino, a terra sempre fora um corpo estranho, o mar pelo contrário sempre se apresentara como um ambiente mais familiar. E nesse dia o menino alimentou-se pela primeira vez das ondas... mas rapidamente percebeu que seria mais dificil do que parecia, afinal domar uma onda não era o mesmo que cavar a terra.
O menino ficara apaixonado... e nunca mais largaria esta nova forma de amar o mar.

foto by Cuze

Tempos mais tarde, o menino que sempre vivera nos confins da terra seca, nela plantou o seu coração salgado. O menino nunca pensou que ali, naquele sitio estéril o seu coração salgado pudesse de alguma forma enraizar. Mas o menino, cedo perceberia que a vida não tem caminhos certos e objectivos. A vida transforma cada passo de um ser, numa caminhada impregnada de experiências e sensações inigualáveis, os imponderáveis da vida, exprimem-se assim nessas experiências... os sentimentos, nascem e morrem, a cada trilho que se nos depara...

E o menino provou um novo sentimento... quando no seu coração salgado de paixão pelo mar, uma flor se enraiza prendendo parte dele para sempre à terra sem fim. O que inicialmente seria uma simples semente sem hipoteses num mundo salgado, vence as probabilidades e firma as suas raizes fortes no coração do menino. No seu peito, o menino viu nascer a mais bela flor que alguma vez vira. Bela, imponente, grandiosa. O seu perfume rivalizava com o aroma da maresia, a sua beleza com o azul do oceano... a volupia das suas formas, com as curvas perfeitas de uma onda. Aquela flôr passara a fazer parte de si. Nesse dia, o menino conheceu o Amor.

E assim o menino sorriu. De coração salgado, uma parte do mar em sua alma e as ondas em seus pés. A Paixão. Com uma bela flôr enraizada em seu coração, fruto das maravilhas de uma terra de sequeiro, a flôr que lhe roubou o coração para sempre e a quem ele sempre prestará uma sentida homenagem... o seu Amor!
Comments:
Muito bom o texto...

Espero que o caminho do menino se intercepte com o do mar no futuro e que nesses encontros nasça sempre tanta inspiração.

Abraço
 
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