domingo, março 11, 2007

 

 

Homem livre, tu sempre gostarás do mar

Évora - S. Torpes - um itinerário periodicamente traçado e realizado por mim, do qual já dei conta inúmeras vezes neste espaço, desde o seu inicio.

Isto torna-se ainda mais explicito, quando se percebe que a periodicidade deste acto (e outros análogos) é de tal forma irregular e espaçada, que qualquer acontecimento do género é sempre noticia neste local. A propósito disto, espero ainda o dia, em que não seja noticia cada surfada que dou, pois isso será sinónimo da minha proximidade com o mar, a consumação de um amor platónico que se transforma num amor carnal... num casamento... numa intimidade.

Pois bem, mais uma vez isto é noticia, não fugindo ao cliché em que acabei ao longo dos tempos, por transformar este acontecimento - diria, que: antes cliché, que quimera.

Na verdade, não tenho qualquer intenção de empastar o texto com descrições pormenorizadas de cada passo que dei, das condições do mar, da cronologia do acontecimento, nem algo parecido.

Apenas escrevo para dizer algo muito simples: Sábado voltei a sorrir como há muito não sorria. Aquele sorriso. Diferente, tranquilo, alegre, pacífico.

Sorrir é óptimo. É o sinal da nossa felicidade, de que a vida nos corre bem. Quando digo isto, refiro-me a um sorriso sincero, genuíno, e não àqueles que mais parecem resultado de uma descarga de fígado, de tão amarelos que estão.
Todos sabemos sorrir. Todos, em dadas alturas das nossas vidas sorrimos, fomos/somos felizes por momentos. Todos nós sorrimos quando nos deram os parabéns no nosso aniversário. Todos sorrimos quando o nosso clube marca o golo tão ansiado. Todos sorrimos quando a nossa namorada nos soletra um "amo-te" ao ouvido.

O sorriso é a expressão de uma emoção positiva, mais banal do que por vezes temos tendência em pensar.

Mas e aquele sorriso?!
O Sorriso.
A expressão máxima de uma felicidade maior do que o universo. Penso que esse sorriso, não é a expressão de uma emoção banal - é antes, a expressão máxima da harmonia entre a nossa alma e o nosso universo.
Naquele sábado, voltei a sentir isso. Quando o sol me batia no corpo, de tronco nu em pleno inverno, junto ao mar, sorriso largo no rosto... e uma sensação de plenitude, de felicidade infinita, em pura sintonia com a melodia do universo. Um sorriso que me provocou um arrepio, não de frio ou de medo, mas de algo tão pleno e reconfortante que é impossível descrever.

É o que se sente em certas alturas como esta, em que se sai do mar depois de mais uma surfada. É provavelmente o que se sente quando nasce o primeiro filho. É o que se sente quando nos sentimos amados - depois do primeiro beijo, depois de fazer amor, ou simplesmente quando se assiste a um lindo por do sol junto da pessoa que mais amamos - , é o que se sente sempre que a vida nos parece maior do que a própria existência, quando nos sentimos eternos e parte de tudo o que existe.

É neste momentos, que o milagre da vida se concentra numa emoção, expressa naquele sorriso.


Nota: a autoria da frase que dá o titulo a este post é de Charles Boudelaire

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Comments:
Que mar, que ondas, cara! Parabéns pelo blog e pelo texto poético. Estive em Portugal em 2003 colaborando com uma ONG chamada Etnia, que faz intercâmbio e fomenta a cultura entre os países lusófonos. Infelizmente não tive tempo de conhecer outros lugares fora de Lisboa, principalmente, as praias. Tenho 45 anos e, apesar de amar o surf desde menino, só aprendi a surfar há dois anos. Moro em Recife, Nordeste do Brasil. Aqui tem umas ondas boas, como também em outros Estados aqui perto: Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas. Boas ondas. Se tiver tempo dá uma sacada no meu blog. Abraços,
Paulo.
 
Ops, esqueci de comentar que conheci alguns lugares no Alentejo: uma pequena cidade chamada Grândola, onde estive várias vezes. E também estive em Alcacer do Sal, acho que era este o nome. De Grândola tenho um grande amigo que tem uma Cooperativa de Teatro em Lisboa, chamado Helder Costa. O Teatro fica em Santos o Velho e se chama A Barraca. Se não conheces, vale a pena conhecer, tem sempre uma peça irreverente e um pessoal legal. Fui! Paulo.
 
Bom texto Cuze... tb eu tenho surfado pouco e revejo-me bastante no teu texto... pode ser que dê p irmos juntos um dia destes ao mar e que o resultado seja um regresso a casa em gargalhadas...

Paulo Costa, nesta nossa aldeia acabamo-nos todos por cruzar directa ou indirectamente... n só aqui no blog do Custódio... sei quem é o Helder Costa e tenho um amigo (Sérgio Moras) que trabalha nessa companhia de Teatro, junto com ele!

Abraço!
 
Puxa,Cruze, está um blogue formidável....mais amadurecido.Os meus parabens!!!!
Preparei um dossier Educação pelo Desenvolvimento, Ambiente, Paz e Não Violência no Bioterra http://bioterra.blogspot.com
que pretendo o mais extenso possível, como que um MANIFESTO comum, alertando os leitores do meu blogue que existem imensas possibilidades para a Paz e Cooperação Ambiental e quantas associações disponiveis a nivel local,regional e global que estão empenhadas neste espírito.
Já agora agradeço a maior divulgação deste dossier e se colegas seus tiverem páginas pessoais e/ou blogues me escrevam para trocarmos os links. Teria muito gosto ainda de enriquecer o dossier com contributos.
Um abraço e Paz a todos os seres viventes
Joao Soares
 
bacana o blog cuze, e consegues mesmo captar a alma de um homem do mar. segue escrevendo, grande abraço, zé augusto de aguiar, aqui do brasil, de são paulo. (é, tb moro longe do mar, e só consigo surfar uns dois finais de semana por mês, mas cada session e onda adquire por isso um sentido mágico)
ps- já leu os livros do gonçalo cadilhe? ele é o mestre.
 
Amigo Zé... O Gonçalo Cadilhe é uma das minhas referências no que toca à escrita de viagens e surf.
Antes dos livros ele tinha uma coluna na SurfPortugal durante muitos anos, além de ainda hoje escrever regularmente para a revista!
É um senhor, de facto.
Grande abraço
 
Sempre que vou a PT paco questao de uma surf trip ao Alentejo.

Sao Torpes e' sempre a primeira paragem...
 
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